Borboleta
Olhava pela janela a manhã soalheira de outono,
Quando uma borboleta pousou no parapeito.
Ficamos a olhar uma para a outra,
Frente a frente, ninguém se mexia.
O tempo abrandou,
E a lente da atenção aproximou.
No retrato do momento, só eu e a borboleta.
De asas castanhas, recortadas, um padrão assimétrico,
Com bolinhas pretas de olho branco nas pontas,
Rosto e corpo de penugem acinzentada,
Patas elegantes e antenas vigilantes.
Parada e imóvel, nada acontecia…
Vens descansar ou trazes alguma mensagem?
Trago mudança.
Aceita que tudo o que está um dia se dissolve,
Nada é suficientemente sólido para escapar ao tempo.
Confia na mutabilidade e volatilidade de tudo.
Confia que o que vem e o que vai é o adequado ao agora.
Tento tocar-lhe,
Talvez para eternizar o momento, talvez por querer mais do momento…
Deu às asas e voou…
Imagem de Erik Karits (https://karits.eu/)