Borboleta

01-12-2024

Olhava pela janela a manhã soalheira de outono,

Quando uma borboleta pousou no parapeito.

Ficamos a olhar uma para a outra,

Frente a frente, ninguém se mexia.

O tempo abrandou,

E a lente da atenção aproximou.

No retrato do momento, só eu e a borboleta.

De asas castanhas, recortadas, um padrão assimétrico,

Com bolinhas pretas de olho branco nas pontas,

Rosto e corpo de penugem acinzentada,

Patas elegantes e antenas vigilantes.

Parada e imóvel, nada acontecia…

Vens descansar ou trazes alguma mensagem?

Trago mudança.

Aceita que tudo o que está um dia se dissolve,

Nada é suficientemente sólido para escapar ao tempo.

Confia na mutabilidade e volatilidade de tudo.

Confia que o que vem e o que vai é o adequado ao agora.

Tento tocar-lhe,

Talvez para eternizar o momento, talvez por querer mais do momento…

Deu às asas e voou…


Imagem de Erik Karits (https://karits.eu/)