O que aprendi em 2020!

Era grande a estranheza com que observava o nascer do sol, com toda a sua beleza, luz e paz. O mundo acorda e adormece com uma harmonia e serenidade imperturbáveis.

"Mas como é possível?!" - pensava eu -"Não sabe o mundo que estamos com as vidas viradas do avesso? Que estamos confinados por causa de uma pandemia? Que compromissos inadiáveis foram cancelados? Que projetos importantíssimos estão parados? Que a nossa certeza no amanhã se desmoronou?"

Mas a beleza do momento era mais forte, acabava por ganhar ao diálogo interno e atraída pela sua paz eu encontrava em mim, por momentos, essa beleza e essa paz. E bem lá no fundo do meu ser uma vozinha: "A vida é o momento! Só vives realmente quando és consciente dele!"

Foi um ano exigente, do encarar e enfrentar muitos medos, angústias, frustrações, raivas, desilusões. De avanços e recuos, recuos e avanços. Mas penso que a maior aprendizagem que retirei foi a de entender e respeitar a minha necessidade, de ao longo do dia, encontrar momentos de abrandar, de silêncio, para simplesmente ser e estar em contemplação, no momento.

A constatação da incerteza do amanhã (que sempre houve, mas talvez nunca tivesse refletido verdadeiramente sobre isso!) realça a verdade de que: este momento é o que conta! É tudo o que tenho! E se consigo ao longo do dia ter momentos em que estou consciente do agora, foi um dia em que vivi.

Esta verdade não invalida os meus projetos, ambições e desejos. Não me liberta de trabalhar para ter sustento, não me vai proteger nem da doença nem do sofrimento. Não me vai impedir de errar, de falhar, de chorar. E terei de continuar a aprender a conhecer e a gerir as minhas emoções.  Mas vai-me dar o espaço e o silêncio necessários para momentos de união com a vida, de ser UM com o momento. 

Permanecer, nem que seja por um instante, na base do momento permite-me a experiência de entender que: não há nada de errado comigo e que na essência eu sou paz. Como tantas vezes ouvi nas aulas de advaita vedanta:

सच्चिदानन्द

Satchitānanda

Sat-chit-ānanda

Quando eu me permito sentar na verdade (Sat) do momento e apenas ser, eu encontro um eu que é consciência, testemunha do momento (chit) e a experiência de como a base de tudo é paz, felicidade, plenitude, realização (ānanda).

Que 2021 seja repleto de momentos em que eu encontre e me encontre no momento!