"Quando tudo se desfaz"*

"Que me sejam dadas as dificuldades apropriadas para que pela compaixão o meu coração se abra verdadeiramente." – Oração Budista

"Nada de belo surge sem algum sofrimento." Desmond Tutu

Desde janeiro que tenho partilhado as reflexões que venho fazendo na minha procura pela Alegria. Aquela Alegria que é a expressão de um coração desperto e aberto para o momento, que não depende das condições externas, que está sempre disponível porque é a nossa natureza, mas que pela nossa tendência para o negativo e por tantas outras razões muitas vezes não a consigo sentir. Apesar de ser algo que nos é intrínseco, Alegria é também uma escolha e uma prática que podemos cultivar e fortalecer através, por exemplo, da meditação e da prática da gratidão .

Confesso que na teoria tudo faz muito sentido, mas num mundo com tanto sofrimento, por vezes é difícil acreditar que possamos viver na Alegria. Como falar de Alegria quando os tempos são difíceis?

No livro sobre Alegria, Dalai Lama e Desmond Tutu, dizem que nos esforçamos demasiado por separar a alegria e a tristeza, mas estas emoções estão inevitavelmente ligadas uma à outra. E que a via para a Alegria, não se afasta do sofrimento e da adversidade, mas passa através deles. Quando passamos por algum sofrimento, "ficamos mais perto da vida".

Pema Chödrön, diz que quando a vida nos puxa o tapete e não encontramos nenhum apoio, o desafio é o de permanecer nesse limiar. "Ficar nesse desequilíbrio — com o coração partido, o estômago apertado, o sentimento de desesperança e o desejo de vingança — é o caminho do verdadeiro despertar". Quando tudo se desfaz surgem as sementes que nos levarão até a liberdade da aceitação, da compaixão e da descoberta da nossa bondade e alegria intrínsecas, que nos permitem permanecer na incerteza, relaxar no meio do caos, ver que tudo está sempre em transição e que é assim que deve ser. Nesse ponto, não estamos presos a nada e podemos abrir o nosso coração e mente além de qualquer limite.

Apesar de reconhecer que muitos dos momentos difíceis por que passei permitiram as aprendizagens e o amadurecimento, para que hoje seja mais feliz e mais apaziguada do que ontem, não me é fácil olhar para o sofrimento de forma tão desprendida, pois bem sei que nem sempre o sofrimento traz um novo e belo dia.

Vou à procura das palavras daqueles que verdadeiramente experimentaram um grande sofrimento e arrepio-me ao ouvir as palavras de Edith Edger, autora e psicóloga, que aos 16 anos foi enviada para Auschwitz onde perdeu os pais. Com 93 anos de vida diz:

" Auschwitz foi uma oportunidade para a oportunidade de descobrir o poder que tenho dentro de mim que ninguém pode tirar ou tocar." O poder de escolher ser livre apesar do que possa acontecer. " Não é o que te acontece que tem mais importância - é o que tu escolhes fazer com isso. Todos nós iremos conhecer a tristeza, a perda, o desespero, o medo, a ansiedade, a falha. Mas também temos a escolha; de ceder ou lutar com o trauma, ou viver cada momento como uma bênção."

Rita

* Titulo de um livro de Pema Chödrön

Referência Bibliográficas

Chödrön, Pema. (2007). Quando tudo se desfaz. Lua de Papel. Alfragide.

Lama, Dalai; Tutu, Desmond. (2022). O Livro da Alegria. Penguim Random House Grupo Editorial Portugal. Lisboa.

Eger, Edith. Pod cast Feel Better Live More, Episódio 500. Vista em 28/03/2025.